Resolvi fazer essa postagem, porque uma das leitoras do blog me contatou no Facebook e declarou estar insegura para lecionar, pois acredita não ter o dom.
Porém que atire a primeira pedra, o professor que NUNCA se questionou sobre esse assunto, ou que ao menos nunca ficou inseguro quanto à didática utilizada, se estava tendo uma boa metodologia ou estava no caminho certo para atingir os objetivos. Se algum professor muito presunçoso responder que sempre teve o controle dessa situação, aí sim ao meu ver, deve estar na profissão errada, porque meus caros amigos, reflexão é algo que deve fazer parte da rotina de um profissional tão importante como o professor. Avaliar é refletir nossas práticas.
Isto me lembra uma experiência recente em que no planejamento de uma turma de Jardim da 2ª etapa, eu precisei montar uns jogos lúdicos que auxiliariam as crianças a aprenderem a contar até 30 termo a termo. Havia um dia da semana específico em que eu TINHA que dar aquele jogo (a palavra em caixa alta está destacada porque foi uma obrigação exigida pelo Departamento Pedagógico da minha cidade, ou seja, não tinha como escapar dessa embora eu não "botasse muita fé"). Gastei dinheiro, construí um joguinho (muito legal, por sinal), que se chama "Ponto de ônibus", também conhecido como "Carona"( aqui neste link você entende as regras do jogo:
http://educacaoinfantilummundoadescobrir.blogspot.com.br/2011/06/jogos-matematicos.html).
Quando terminei e levei o maiooooor tempo para confeccionar o joguinho, confesso que fiquei entusiasmada e até achei que ficou bonitinho. Fiz 6 tabuleiros individuais, plastifiquei, desenhei, pintei, confeccionei 6 dados e encapei umas várias caixinhas de fósforo para depois plastificar. Em resumo posso afirmar que deu trabalho para confeccionar no recesso escolar.
Porém, quando na aula, já preparada, fui trabalhar o jogo com as crianças pela primeira vez, foi um pesadelo. As crianças detestaram o jogo, não entenderam muito bem as regras e um dos alunos estragou um dado, além de espalhar as peças do jogo no chão. Estavam super agitados. Eu pensei: "Poxa, não acredito que perdi um tempão fazendo esse jogo no meu recesso, com o maior carinho e tive que vivenciar isso..."
Naquele momento, fiquei tão abalada que tive vontade de sair correndo, mas ao invés disso, procurei conversar com os alunos e compartilhar a minha dor com eles. Disse que eu havia feito com carinho e que eles estavam sendo ingratos (aproveitei para explicar o que era ingratidão), e que o jogo era uma forma de aprenderem. Então, uma das crianças sempre muito sincera, me disse que o jogo era chato. Assim, encerrei a atividade do jogo, mas percebi que haviam falhas na minha didática e posteriormente quando procurei trabalhar o mesmo jogo com as crianças, fiz algumas alterações e elas aceitaram melhor. Precisei primeiro jogar com um dos alunos na roda para que os demais observassem, depois tive que combinar com eles que não era necessário gritar e não era permitido brigar, era preciso esperar a vez de cada um e que todos deveriam ter cuidado com as peças. Em seguida fui de mesa em mesa com a maior paciência, explicar para os alunos que ainda não haviam compreendido. É óbvio que nem todas as crianças passaram a amar o jogo, seria hipocrisia minha falar isso aqui, pois como já disse antes, alunos tem suas individualidades e ninguém é obrigado a gostar de nada neste mundo. A questão é que foi preciso refletir sobre como seria a melhor forma de trabalhar o joguinho com eles e admitir que falhei. Muitas vezes, as crianças são ótimos professores para adultos perdidos. Antes de trabalhar o joguinho, confesso que nem eu mesma estava acreditando que era possível ou de que eu seria capaz de fazê-los compreender e já previa que a primeira atitude deles, seria exatamente como foi, aquele pesadelo todo. Porééééém, fui obrigada a tentar. Hoje me pergunto o que teria acontecido se eu não tivesse tentado, pois aquele joguinho auxiliou muitos alunos aprenderem a contar termo a termo.
Não sou a dona da verdade e inclusive, criei este blog com objetivo de compartilhar minhas experiências pessoais na área. Então se quiserem discordar, fiquem à vontade. Mas se tem algo que me pareceu muito óbvio desde quando comecei na área, é que não podemos quanto profissionais, parar de nos questionarmos se estamos ou não fazendo a coisa certa.
É lógico que não existem receitas de "bolo", pois cada sala é uma sala e tem suas peculiaridades e inclusive, cada professor é um professor. Uma atividade que deu muito certo na minha sala do Jardim, pode ser um fracasso na sala do Jardim da professora Bruna. O que deu certo para um, nem sempre dará para outro. Cabe aqui mais uma vez mencionar que se quisermos saber se algo, seja lá o que for, vai dar certo, precisamos experimentar.
Não vai ter jeito. algumas vezes precisaremos arriscar nesta vida e enfrentar nossos medos e inseguranças (um baita de um clichê, eu sei). Só que para isso são necessárias as reflexões. Então, para a leitora que contatou, só posso dizer que afaste o medo e vá estagiar. Se você não gostar, bola pra frente. O importante é que foi e tentou. Pode ser que você goste e descubra que tem o "dom para ensinar". Você tem algo a perder indo ou tem algo a ganhar? Se só tem a ganhar, deixe o medo de lado de suas reflexões (medo só atrapalha nessa hora) e arrisque.
Eu tenho a plena noção de que não sou a melhor professora deste mundo, longe disso. Porém também sei que posso ao menos tentar dar o meu melhor, refletir as minhas práticas, ir atrás quando tiver dúvidas e estar sempre aberta para aprender com professores experientes. Aliás, sempre iremos ter algo o que aprender com quem quer que seja... Então eu chego a conclusão de que todas as pessoas tem algo para nos ensinar e todas elas possuem esse dom.
É claaaaaaro que aquele friozinho na barriga inicial irá acompanhar os professores para sempre. Turma nova? Não conhece os alunos? Nunca deu aula para essa faixa etária? Enfrente seus medos. Creio que até professores de longa data, nessas situações ficam com o friozinho na barriga, quando ainda não conhecem a turma.
Eu pedi remoção recentemente para uma escola perto de minha casa, porém já comecei com a ansiedade típica e não há dúvidas de que o friozinho na barriga irá me acompanhar no primeiro dia de aula. Não conheço os alunos, nem os funcionários, nem os pais dos alunos. Mas eu estarei lá. Se vai ser bom ou não, só saberei indo.